Ao anunciar que os bancos estão ampliando as operações de crédito, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, não levou em conta a forte redução dos prazos dos créditos, como também não reconheceu que o grande concorrente das pessoas jurídicas e físicas é o próprio BC, com as operações de open market, que dão aos bancos a opção de aplicar a curtíssimo prazo, sem risco e com boa remuneração (pela Selic).
Os bancos e fundos têm mais de R$ 340 bilhões aplicados em operações de curtíssimo prazo, um excesso de liquidez que poderia ser dirigido a operações de crédito de maior prazo, o que certamente contribuiria para impulsionar as atividades empresariais.
Essa situação transparece claramente na divulgação do balanço do Bradesco, em que se vê que as operações de mercado aberto (mercado secundário de títulos e moeda), que somavam R$ 32,014 bilhões no final de 2007, elevaram-se para R$ 61,434 bilhões em dezembro de 2008, ou seja, um aumento de 91,9% em 12 meses. Tudo indica que o Bradesco não constitui uma exceção, o que se comprovará nos balanços de outros bancos.
O medo de um aumento da inadimplência, que levou as instituições financeiras a elevarem seus spreads antes mesmo que ela se apresentasse como uma tendência inevitável, teve também o efeito de levar os bancos a optar pela redução dos prazos das suas operações e, evidentemente, isso elevou o nível de recursos disponíveis dessas instituições. Diante disso, optaram por aplicar parte dos seus recursos em títulos públicos que têm retorno rápido e oferecem segurança.
Essa tendência pode ser percebida pelo montante das operações de overnight: antes, o BC retirava cerca de R$ 30 bilhões diariamente do sistema financeiro; hoje a retirada cresceu para R$ 100 bilhões diariamente. Ao mesmo tempo, está-se verificando que o BC, que tomava recursos dos bancos por 30 dias, em média, elevou esse prazo para entre 40 e 50 dias.
As autoridades monetárias liberaram cerca de R$ 84,5 bilhões, entre setembro e dezembro, dos recolhimentos compulsórios, para permitir aos bancos aumentarem suas operações de crédito. Parece que boa parte disso se dirigiu para a compra de títulos do Tesouro.
Operações de open market são necessárias como instrumento de política monetária, mas o excesso de liquidez dos bancos não deveria ser, como agora, desviado para títulos do Tesouro...
ESTADÃO
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